Miragem
Instalação-performance / Exposição individual
Outubro - Novembro 2022, Culturgest Porto
MIRAGEM é uma exposição performativa sobre o fim definitivo – a EXTINÇÃO.
Em diálogo aberto com o fim, na tentativa de o adiar/perceber/aceitar, Miragem é uma ação especulativa, um laboratório de novas possibilidades de imaginação e experiência.
A exposição apresenta três instalações compostas por peças de diferentes formatos (vídeo, escultura, som), criadas por Joana Magalhães. Nesta série, através da desconstrução de discursos apocalípticos e catastrofistas contemporâneos que rodeiam o tema central, geralmente vinculados à não-ação, projetam- se novas mitologias de subsistência do futuro baseadas na construção de narrativas que introduzem o fim do mundo como um acontecimento inevitável mas possível de adiar e com o qual podemos e devemos dialogar. Necessariamente oníricas, as obras apresentadas são comopedaços arrancados do inconsciente coletivo que se veem plasmadas no espaço expositivo e para as quais contribuiu o pensamento de autores como Dipesh Chakrabarty, Donna Haraway e Eduardo Viveiros de Castro, muita cultura pop, uma longa tradição de narração oral e a radical vivência da infância. Através delas, atualizam-se estratégias ancestrais de lidar com o fim e projetam-se visões utópicas.
Estas visões utópicas, que emergem da paisagem nos seus múltiplos estádios de devir, fluindo de baixo para cima e evocando perspetivas rizomáticas submersas, descolonizam o imaginário. É próprio do imaginário colonizado impor a categoria do impossível e da necessidade e, se necessário, a da fatalidade, seja sob o signo da Natureza, seja sob o da teologia. Mas imaginar é também fragilizar o real, reapropriar- se da sua fragilidade e fazer entrar nas palavras, nas imagens e nos gestos a categoria do possível e a força das indeterminações.
01.
Furar a neve, 2022 Vídeo
Documenta o momento em que as escalas de finitude individual e de finitude coletiva entram numa trajetória de convergência para se tornarem numa verdade afetiva difícil de administrar. O caráter hiperobjetivo e apocalíptico do fim coletivo é gerador de um vazio existencial concentrado num animal dividido entre sombra e luz: o panda. O fim da ficção é o gesto inaugural deste vazio. É nas suas ruínas que se ativam novas mitologias de subsistência de um futuro que irremediavelmente conterá um termo, um finito, um caput, contrariando as ideias capitalistas e extrativistas sem fim à vista.
02.Joana Magalhães & Susana Paixão
Furar a neve ( Realidade-prazer-prazer ), 2022 Apresenta três variações da estufa usada no filme original FURAR A NEVE. A estufa, símbolo de conservação e de artifício sobrevivencialista, é também apresentada como casa. As três variações correspondem às três casas construídas no conto tradicional Os três porquinhos, regidas, respetivamente, pelo princípio do prazer, prazer, e realidade. Ao contrário da história popular, que apresenta as casas por ordem crescente de robustez e de artifício, aqui a ordem é invertida, antecipando uma maior valorização da casa três (a casa de palha). Esta série, permeada pelo universo dos contos populares e da tradição oral, apresenta três formas distintas de adiar o fim, pondo em evidência as estratégias, muitas vezes violentas, de conservação e de recusa de tudo o que sabemos sobre ecologia e biologia ao isolarmos o ser humano do resto do mundo.
RealidadeAlumínio, viroc, cimento, espelhos, gato Bordalo Pinheiro, terrina Marinha Grande
Prazer 1
Alumínio, acrílico, chocadeira, ovo, galo de Barcelos
Prazer 2
Alumínio, musselina, voil
03.Joana Magalhães & Marisa Escaleira
Haiku, 2019
Tecido de pelúcia, pasta de enchimento, esponja e esferovite
04.
Manifesto do teatro contemplativo, 2019
Serigrafia
05.
Joana Magalhães & Stephane Alberto
Love Song - O que está morto está morto, 2022
Poliestireno expandido, poliuretano, resina acrílica, pele de vaca, látex, silicone, drakalon, lã, desperdício de tecido, sisal
Em Love Song - O que está morto está morto, o espetador é convidado a olhar e a contemplar um acontecimento valioso: o fim. Neste caso, o fim biológico consumado. No memento mori é explorada a importância de olhar de frente a morte, de reconhecer o fim da vida que já cessou, de fazer o seu luto e de não viver apenas no terror do advento de um fim maior, a extinção. O corvo, animal que acompanha o cadáver como doula de fim de vida, para além de ser um dos poucos animais que pratica rituais fúnebres, é necrófago, pontuando a continuidade entre fim e início, entre morte e vida
06.
Joana Magalhães & Diana Ferreira
Edição - Livro de apoio à exposição Miragem - discursos sobre o fim.
Download da Brochura
Conceção
Joana Magalhães
Cocriação
Marisa Escaleira,
Stephane Alberto,
Susana Paixão
Direção técnica
Vasco Ferreira
Vídeo
Vasco Mendes
Guias das visitas guiadas
Fátima Vieira,
Joana Montalverne,
Pedro Eiras,
Victor Moita
Direção de produção
Maria Inês Marques
Produção executiva
Nuno Eusébio
Apoio à produção
Pedro Costa
Costureira
Maria Costa
Apoio à construção
Cristõvão Neto,
José Queiroz,
Mariana Fonseca,
Nuno Mega
Fotografia
Mafalda Lencastre
Grafismo:
Diana Ferreira
Projeto vencedor do programa Criatório da Câmara Municipal do Porto